terça-feira, 13 de abril de 2010

Noção de Cibercultura por Pierre Lévy

No âmbito da Unidade Curricular - Educação e Sociedade em Rede foi proposto analisar o texto de Pierre Lévy, "Cibercultura" e apresentar no blog individual um comentário sobre a noção de cibercultura, defendida por Pierre Lévy, incluindo a indicação de três exemplos significativos.
Não podemos falar em cibercultura sem incluir também a definição de ciberespaço.
A noção de Cibercultura "aborda as implicações culturais do desenvolvimento das tecnologias digitais da informação e de comunicação."(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg. 17)

A Cibercultura, pode ser denominada como a cultura do futuro. É considerada como "universal sem totalidade", universal dado incluir todos os utilizadores da rede, proporcionando mais cedo ou mais tarde um encontro que pode ser intemporal e sem local específico para decorrer, e sem totalidade, uma vez que não inclui a totalidade/diversidade de informações, a cultura vai sendo construída ao longo do tempo e de forma contínua.
O termo cibercultura, inclui as técnicas, as práticas, as atitudes, os modos de pensamento e os valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.

A Cibercultura, "expressa o surgimento de um novo universal, diferente das formas culturais que vieram antes dele no sentido de que ele se constrói sobre a indeterminação de um sentido global qualquer."(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg. 15)

Quanto ao ciberespaço, "geografia móvel de informação", para Piérre Lévy, também denominado de rede, é considerado como o novo meio de comunicação que surge da interligação mundial entre vários computadores, incluindo todas as infra-estruturas materiais da comunicação digital, desde um simples computador ou um cabo a outras estruturas mais complexas e que permite albergar todo o universo de informações e todos os utilizadores que navegam na rede e todos os que contribuem para a construção de conhecimento injectando informações nesse mesmo universo.

Nos nossos dias deparamo-nos com um Boom de novos utilizadores, que acedem à internet, não só em busca de informação, mas também contribuindo para a construção do conhecimento através da introdução de informações variadas. Esta panóplia de informações é gerida pelos administradores dos vários espaços onde ela é colocada, no sentido de autorizar ou não a sua disponibilização na rede, evitando situações de duplicação de informação e outras situações menos convenientes. Todas as informações que vão surgindo, vão contribuindo para a expansão da rede. Esta rede consiste num conjunto de interligações entre os vários computadores dos muitos utilizadores.
O ciberespaço foi ampliado de uma forma tão brutal que se tornou universal. Apesar disso, a sua função continua a ser "acesso à distância aos diversos recursos de um computador".(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg.93)

Cibercultura pode ser considerada toda a cultura que se desenvolve no ciberespaço. Pode ser considerada toda a cultura existente em ambiente virtual.
O universo de dados digitais são cada vez mais comuns e digitalizar a informação, implica que esta passe a ser escrita ou codificada na forma de 0´s e 1's para poder ser entendida pelas máquinas, propagada pelas redes e distribuída posteriormente pelos vários computadores/utilizadores.
A cibercultura, faz uso não só da tecnologia, mas também das muitas técnicas para tratamento da informação digital. Os computadores associados às várias infra-estruturas de rede, permitem não só produzir e distribuir informação, de forma intemporal e sem limites, mas também, uma construção colectiva do conhecimento.

Os métodos de trabalho foram alterados de forma súbita e arrastados por uma brusca evolução/revolução tecnológica, tornando obsoletos os conhecimentos e o savoir-fare tradicionais a que estavam habituados.
" O Ciberespaço, dispositivo de comunicação interactivo e comunitário, apresenta-se justamente como um dos instrumentos privilegiados da inteligência colectiva".(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg. 29)
Os organismos de formação profissional ou de ensino à distância desenvolvem sistemas de aprendizagem cooperativa em rede.(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg. 29)

Para Pierre lévy, existem 3 tipos de cultura: a cultura oral (totalidade sem universal), a cultura escrita (universal totalizante)e a cibercultura (universal sem totalidade).
Todas estas formas de cultura não se anulam, complementam-se, "adicionando-lhe dimensões suplementares"(lévy,Pierre, "Cibercultura", pg. 248).A primeira, pode ser considerada uma forma de cultura fechada onde nada é universal, onde a memória humana limitava a cultura. A segunda forma de cultura, por incluir formas de comunicação, nomeadamente através da escrita, permitindo assim, uma memorização que leva à universalidade. A terceira forma, a cibercultura, "mantém a universalidade ao mesmo tempo em que dissolve a totalidade."(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg. 249, onde através das redes de comunicação se formam as comunidades virtuais. Estas comunidades permitem uma actualização da memória e uma construção colectiva e colaborativa do conhecimento.
Dada a diversidade de situações económicas e sociais da comunidade, por vezes pertencer ou não a uma comunidade virtual pode ser factor de diferenciação entre as classes sociais. Vai acentuar as desigualdades e vai constituir factor de exclusão e acentuar o fosso entre ricos e pobres, uma vez que para pertencer a uma comunidade virtual, é necessário dispor de infra-estruturas específicas para comunicar e equipamento específico (computadores, etc)envolvendo custos e investimento. Embora a tendência seja uma evolução exponencial da tecnologia, vimos assistindo a uma redução dos preços de aquisição dos equipamentos necessários para comunicar, são no entanto, ainda necessárias intervenções ao nível da administração central dos países, no sentido de, proporcionar o acesso à rede ao maior número de cidadãos, evitando assim, a infoexclusão.
A desqualificação dos indivíduos, a luta contra as desigualdades, o incentivo à autonomia dos indivíduos, favorece o "acesso para todos", contribuindo deste modo para a valorização das competências, dos recursos e das culturas, teoria defendida pela cibercultura e por Pierre lévy.
Os indivíduos contactam à distância, estabelecendo relações de afinidade ao pertencerem a comunidades virtuais e tudo isto proporcionado pela existência de um ciberespaço.
"ciberespaço...abre novos planos de existência:-nos modos de relação: comunicação interactiva e comunitária de todos com todos no centro de espaços informacionais colectivamente e continuamente construídos, - nos modos de conhecimento, de aprendizagem e de pensamento: simulações, navegações transversais em espaços de informação abertos, inteligência colectiva, - nos gêneros literários e artísticos : hiperdocumentos, obras interactivas, ambientes virtuais, criação colectiva distribuída.(Lévy, p, Cibercultura, pg 218)Isto é, a cultura não será substituída pela cibercultura, mas sim, complementada.
No ciberespaço, a proximidade física ou geográfica é inexistente.
O"impacto automático ou predeterminado das novas tecnologias sobre a sociedade e a cultura" no que se refere à cibercultura, gera muitas vezes conflitos de interesse e diversidade de pontos de vista. Por vezes, o ciberespaço torna-se um campo de batalha onde os industriais de comunicação e dos programas tentam promover e afirmar os seus produtos.

A inteligência colectiva é incentivada e a sua finalidade concretizada, colocando os percursos ao dispor da comunidade virtual."é a aspiração mais profunda do movimento da cibercultura."(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg. 208)

Relativamente aos três exemplos e dada a variedade dos mesmos, optei por seleccionar em primeiro lugar a Aprendizagem aberta e à distância, pgs 169 e 170, em segundo lugar as conferências electrónicas, pgs 99-104 e 171 e as comunidades virtuais, pgs 127-130.
Os sistemas educativos e o surgimento de oportunidade de progressão dos estudos para indivíduos que física e geograficamente distam dos grandes centros, onde se encontram as melhores e maiores universidades, faz com que esses mesmos indivíduos consigam através do ciberespaço aceder a novas formas de cultura. Esta cultura é uma cultura digital, onde tudo está dependente de máquina, os computadores e onde se proporciona a construção do conhecimento de uma forma cooperativa e colaborativa e onde se podde contribuir para a construção e disponibilização na rede de informação, contribuindo para a construção da cibercultura.
As universidades cada vez mais estão a apostar na captação de alunos, através da promoção de cursos e do ensino à distância. As exigências a nível de formação da nossa sociedade, estão em crescimento.Os Custos associados a esta formação estão cada vez menores, uma vez que, no ensino à distância não se coloca a questão de despender de verba monetária para alojamento e deslocações.
Os custos inerentes a cursos (profissionais, de ensino superior, e outros) são cada vez menores se se tratar de ensino à distância, razão pela qual se aposta em universidades virtuais.
Não é só a quantidade de cursos que está disponível, mas também a qualidade dos mesmos que com a utilização do computador no ensino e com a virtualização da maioria dos documentos e utilização de ferramentas para a web. Cada vez mais se recorre a " práticas de levantamento de informações e de aprendizagem cooperativa no centro ciberespaço mostra a via para um acesso ao conhecimento ao mesmo tempo massificado e personalizado."(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 170)
Todo o conhecimento que está acessível através da Internet, via informação digital, está a ser utilizado como recurso, não só nas universidades, mas também em escolas de ensino básico e secundário.
Hoje em dia já não se faz "distinção entre ensino presencial e ensino a distância"..."já que o uso das redes de telecomunicações e dos suportes multímidia interativos vem sendo progressivamente integrado às formas mais clássicas de ensino".Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 170)

Relativamente ao segundo exemplo, e porque este também faz uso do ciberespaço e recorre à tecnologia para participar no fenómeno cibercultura, convém referenciar que, é prática corrente em muitas universidades e escolas, proporcionar experiências de conferências electrónicas aos alunos e prepará-los para o mundo do trabalho em empresas de grande prestígio.
Os professores das universidades estão a alterar os seus comportamentos e as suas práticas perante a tecnologia e a digitalização da informação, apostando na qualidade dos cursos e das disciplinas que leccionam.
Toda a aquisição de conhecimentos e de construção de saberes passa pela "aprendizagem cooperativa assistida por computador" e passa a traduzir " a perspectiva da inteligência colectiva no domínio educativo"."Alguns dispositivos informatizados de aprendizagem em grupo são especialmente concebidos para o compartilhamento de diversos bancos de dados e o uso de conferências e correio electrônicos".... "Os estudantes podem participar de conferências electrônicas desterritorializadas nas quais intervêm os melhores pesquisadores de sua disciplina." (Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 171)
As conferências electrónicas são um "dispositivo sofisticado que permite que grupos de pessoas discutam em conjunto sobre temas específicos. As mensagens são normalmente classificadas por assuntos ou por sub-tópicos. Alguns assuntos são fechados quando são abandonados e outros são abertos quando os membros do grupo acham necessário."Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 99)
Todas as mensagens trocadas através de conferência electrónica estão subordinadas a um tema, no entanto os indivíduos podem trocar mensagens entre si. Cada mensagem está sempre identificada por que a escreveu.
Todos os indivíduos que estejam ligadas a uma conferência, podem trocar mensagens compartilhando um "espaço virtual de comunicação".(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 99)
A Internet permite o acesso a uma quantidade enorme de conferência electrónicas, as quais são denominadas de newsgroups, onde, de acordo com os seus interesses e independentemente da sua identificação ou localização geográfica, são contactados para participar nas discussões dos temas.

Como último exemplo, temos as comunidades virtuais, cujo suporte consiste nas interligações existentes entre os indivíduos.
"Uma comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projectos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isto independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais."( Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 127)
Também nas comunidades virtuais surge a necessidade de recorrer às técnicas de netetiqueta, com vista a possibilitar uma comunicação efectiva.
Muitas vezes associa-se às comunidades on-line o não estabelecer de relações de afinidade com outros elementos da comunidade.
Os encontros online são considerados como um complemento aos encontros físicos, uma vez que não os substitui.
No seio das comunidades virtuais defende-se que todos os elementos devem trocar mensagens, sendo a reciprocidade uma regra básica. Todos recebem mensagens com informações, mas também, todos contribuem para o fórum com os seus conhecimentos.
As regras para comunicação on-line devem ser respeitadas, sob pena de serem "excluídos pelos administradores de sistema a pedido dos organizadores das conferências."Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 128)
Por vezes podem surgir conflitos entre os participantes, mas, "por outro lado, afinidades, alianças intelectuais, até mesmo amizades podem desenvolver-se nos grupos de discussão, exatamente como entre pessoas que se encontram regularmente para conversar."Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 128 e 129)
" uma comunidade virtual não é irreal, imaginária ou ilusória, trata-se simplesmente de um coletivo mais ou menos permanente que se organiza por meio de novo correio electrônico munidal". Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 130)
" A Cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre as relações do poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. O apetite para as comunidades virtuais encontra um ideal de relação humana desterritorializada, transversal e livre."(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg 130)
As comunidades virtuais recorrem ao ciberespaço para comunicar e para complementar informações no sentido de construir a cibercultura.

"a cibercultura não é controlável".(Lévy, Pierre, "Cibercultura", pg30)


Referência:

LÉVY, Pierre (1999). "Cibercultura", Editora 34, S. Paulo.